Textos de apoio












O registro como ponto de partida para produção coletiva de conhecimento e de sistematização das práticas de educação popular


            Oscar Jara já nos alertou que o registro é uma das condições essenciais para se sistematizar uma experiência. Ou seja, sem bons registros das práticas torna-se quase impossível produzir conhecimento sobre elas, uma vez que “qualquer experiência que se pense sistematizar é um processo que transcorreu no tempo. Ao longo de seu trajeto aconteceram muitas e diferentes coisas”. Para Jara:   
           
“O importante para a sistematização da experiência é contar com o registro de tudo isso, que tenha sido feito o mais perto possível do momento no qual ocorreu cada fato. Não é possível fazer uma boa sistematização se não se contar com uma informação clara e precisa do acontecido. Este é um requisito fundamental; diríamos quase indispensável... ”.

            Este autor nos ajuda ainda a entender que há uma enorme variedade de formas possíveis às quais se pode recolher uma informação do que acontece numa experiência: a) os cadernos de apontamentos pessoais, "diários de campo", documentos que contém propostas, rascunhos,  projetos de atividades, informes, atas de reunião, memórias de seminários ou oficinas; b)   Não temos que pensar só em registros escritos: há outras formas documentais que são tão ou mais importantes, de acordo com o caso: gravações, fotografias, filme em cinema ou vídeo; gráficos, mapas, quadros sinóticos, desenhos... Segundo Jara: “Os registros nos permitem ir à fonte dos diferentes momentos que ocorreram ao longo da experiência, com o que será   possível reconstruir esse momento tal como foi”.


Como instrumento de trabalho, o registro vem associado ao planejamento e à avaliação. Assim todo processo desde o planejamento, registro e avaliação compõem o fazer educativo. Podemos nos questionar: Mas como registrar? Não existe uma regra, ou receita. O registro é marca individual de cada educador, pois não é algo burocrático que deve seguir uma regra, mais algo especial onde estarão registrados acontecimentos, fatos discussões da vivência diária em sala de aula e do trabalho do educador.

            Paulo Freire , ao refletir sobre o ato de escrever, nos alerta sobre a dificuldade que é transpor uma experiência concreta para os nossos registros e da necessidade de ao objetivar o relato de uma prática, por meio da escrita, não se deve deixar perder o vivido em cada experiência: “Escrever com sangue, dor e prazer é falar do que corre em nossas veias. Falar de amor, ódio, sonho. Escrever a sua palavra, deixar marcado o vivido e o pensamento, é ato criador, que requer certa dose de ousadia, coragem e disposição em ativar (para desvelar ou compreender) aqueles sentimentos de amor, ódio, dor, prazer, presentes na nossa relação de seres humanos. E o humano da criação passa pelo desejo, pelo sonho de mudança, de transformação, de conquista do bom, do belo, do prazer. FREIRE (1995, p.56)


É importante superar a ideia do registro como obrigatoriedade, como algo chato na educação popular. Nesta concepção de educação, o registro é parte do processo coletivo de construção de conhecimento sobre as práticas. Isto supõe não fazer o registro pelo registro, de forma acrítica, mas buscar por meio e a partir dele refletir sobre as atividades que, muitas vezes, dada a sua dinâmica, não permitem um olhar imediato.
            A pesquisadora Cecília Warschauer nos ajuda perceber que : “... o registro ajuda a guardar na memória dos fatos, acontecimentos ou reflexões, mas também possibilita a consulta quando nos esquecemos. Este “ter presente”o já acontecido é de especial importância na transformação do agir, pois oferece o conhecimento de situações arquivadas na memória, capacitando o sujeito a uma resposta mais profunda, mais integradora e mais amadurecida, porque menos ingênua e mais experiente, de quem já aprendeu com a experiência. Refletir sobre o passado (e sobre o presente) é avaliar as próprias ações, o que auxilia na construção do novo. E o novo é a indicação do futuro. Ë o planejamento. (WARSCHAUER, 1995, p. 62-63)

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